11.F – Raimundo Gurgel Valente (*07/04/1912+-29/01/1974) - Comerciário

 

Manoel Olegário Pinheiro (30/06/1894-23/05/1943) (In memoriam)

C – Maria Lima Pinheiro (27/07/1902-21/01/1928) (In memoriam)

Valdizar de Melo Brasil

Por jb serra e Gurgel (*)

 

Tia Perpétua, Perpétua Gurgel Pinheiro,  cujo centenário passou em 8 de outubro de 2009, compôs uma geração de mulheres de estirpe, descendentes de Henrique Gurgel do Amaral Valente (vovô do Rio, do rio Quincoê) e Joana Gondin Pereira e integrada por Almerinda, Maria do Carmo(Mariinha) , Minervina, Dionísia, Francisca (Tica), Antonia, Lidia e ela mesma, mulheres, mais Francisco, Henrique, Eduardo e Raimundo, mulheres. Só ela e Raimundo  nasceram em Lages, depois Afonso Pena e Acopiara,um ano depois da chegada da família Gurgel do Amaral Valente àquelas paragens do sertão central do Ceará,m 1908.

Vovô do rio estabeleceu-se em Lages, chegando como fornecedor de tudo para os trabalhadores que construíam a estrada de ferro Fortaleza-Crato.  Começara em Parangaba, depois que se separou de uma sociedade comercial que teve com seu irmão Teófilo Gurgel do Amaral Valente que se associou a Diogo Siqueira e criaram a Siqueira Gurgel, em Otávio , mas Bonfim, que marcou época com o sabão Pavão, “o melhor sabão do Brasil”, o óleo Pajeú, a “neguinha do Pajeú”, o sabonete Sigel e o time de futebol, Usina Ceará, a Vila Gurgel e o Estádio Teófilo Gurgel, na Av. José Bastos. Casou-se e os filhos foram nascendo pelo meio do caminho. Em Lages, comprou muitas terras, mas nunca ostentou riqueza. Viveu modesto e foi coletor e delegado.

Tia Perpétua  batizada por monsehor José Coelho, que  já perdeu  o status de praça em Acopiara, depois de ter marcado o território para a construção da igreja matriz, sendo padrinhos Pedro Gurgel do Amaral Valente  e Firmina Aguiar Gurgel do Amaral Valente. Estudou com sua irmã, Lidia, educou-se nos princípios do catolicismo, época em que muitas primas e primos e sobrinhos entraram para diferentes organizações católicas. Seus irmãos eram músicos: Henrique tocava vários instrumentos de sopro  e regeu a 1ª. banda de música da cidade, Eduardo tocava clarinete e foi o 2º. regente da banda, Mariinha, flauta doce e Lidia,bandolim. O eixo das festividades era a festa  da padroeira, NS do Perpétuo Socorro, quando haviam quermeses, desfiles, missas, apresentavam peças teatrais dirigidas por Mariinha e Lidia, tendo Perpétua os papeis de protagonista.

Em 1935, com 26 anos, casou-se com Manoel Olegário Pinheiro,  viúvo de Maria Lima Pinheiro com dois filhos,   Ruth e Agamenon,  O casamento durou apenas oito anos, dada enfermidade contraída por ele, mas lhe deixou o tesouro de cinco filhos, Rui, Airton, Olegário, Ubaldina e Reni. Em 1943, após a morte de Olegario, tia Perpetua foi à luta para sustentar , criar e educar os filhos e fez de tudo em Acopiara, menos casar de novo, apesar da fila de pretendentes. Foi professora leiga, auxiliar parteira de dona Nenem Nogueira, que pós uma geração de acopiarenses no mundo,auxiliar de cartório. Contou com a imensa ajuda da Irma Lidia que alfabetizou seus filhos e ainda adotou Reni,por um período ,enquanto as coisas melhoravam. Como caçula tinha ainda a doce proteção de vovô do Rio e de vovo Joaninha.

Em 1954, trocou Acopiara por Fortaleza, vindo morar numa casa confortável na Vila Gurgel e trabalhar na secção de fabricação do sabonete Sigel,na Siqueira Gurgel. Estava assegurada a sobrevivência de todos, com modéstia e honestidade. A solidariedade dos Gurgel aflorou. Rui,o filho mais velho, tomou o rumo do Rio de Janeiro,para onde partiram à mesma época seus primos, Teofilho, Niceas, Jaile na busca de trabalho e desafios. Especializou-se em ótica e mais tarde voltaria a Fortaleza . Seus irmãos, Airton e Olegário, montaram o Depósito Gurgel, uma pequena loja no Parque Araxá,para venda de maerial de construção. O negocio deu tão certo que vários familiares, vindos de Acopiara, tiveram depósitos, como Nestor,Valmir, Nertan, Chiquinho de tio Eduardo. Ubaldina se formou em Administração, exerceu relevantes cargos públicos na prefeitura de Fortaleza e Reni concluiu o 2º.grau pedagógico e se dedicou as tarefas domésticas e á educação  primária.

As dificuldades de Pérpetua  sumiram e ela assumiu sua condição de líder da família Gurgel de Acopiara em Fortaleza, onde moravam suas irmãs, Dionisia, em Otávio Bonfim, praticamente dentro da Siqueira Gurgel, onde trabalhou seu marido,João de Souza, e Francisca (Tica)que morou na Floresta, tendo seu marido, Valdizar, sido chefe da estação ferroviária Eng.João Felipe, a principal do Ceará. Em torno dela, por seu espírito alegre, aberto, espontâneo, solidário se reuniram . A prematura morte de Rui,em 1972, abalou a todos, mas Perpetua superando a dor tocou a vida. Em 1975, deixou a Vila Gurgel, já transformada,  face o processo de declínio da Siqueira Gurgel, indo morar na Rua dos Campeões, em Dionisio Torres, com a filha Ubaldina, que lhe acompanharia   vida afora.

Seu neto, Helder Gurgel Ferreira Gomes, lembra o que ela lhe dizia “Nasci em Lages, me criei em  Afonso Pena e me casei em Acopiara  e não saí do lugar”.  O que não é novidade, para os acopiarenses, para nós, Acopiara é o centro do mundo. 

Nas comemorações dos seus 90 anos, em outubro de 1999, filhos e netos lh fizeram muitas homenagens. Num livreto de lembranças, “90 anos de Vida e Conquistas”, está contada com a singeleza da família sua trajetória de vida, com depoimentos de sua garra em criar, educar e fazer seus filhos pessoas de bem. Seus objetivos foram alcançados. Helder  remexeu os arquivos de Tia Perpétua com o auxilio da maezona, Reni, desvendado seu pequeno mundo de vivências marcadas pela ternura e simplicidade. Modinhas, emboladas, trovas,  pensamentos, advinhações,ditados populares, muito foi registrado com sua maneira simples de escrever a ata de sua vida. “A porta da vida é estreita.Iludem-se os que imaginam encontra-la larga”. Parabens tia. Sempre a admirei por sua retidão e por seu amor à família.

JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor, sobrinho.

Acopiara, o trem, a estação, Valdizar e Tia Tica

 

Por J.BSerra e Gurgel (*)

Valdizar de Melo Brasil  nasceu em Ibicuã, distrito de Senador Pompeu,   em 15 de Agosto de 1903.

Valdizar foi um autodidata ,apenas com a instrução da época em que viveu, tinha veia poética, gostava muito de fazer livros de sonetos, palavras cruzadas, charadas, logogrifos, tendo recebido vários prêmios e por essa razão tendo sido colaborador das revistas de palavras cruzadas na época.

Ficou órfão de pai, Valter de Melo Brasil,  aos 14 anos e começou trabalhar. Viveu a infância e adolescência em Suçuarana, onde sua avó paterna, Maria Romana de Melo Brasil,  era a Agente dos Correios e Telégrafos. . Quando ele ingressou na Rede Viação Cearense-RVC . foi telegrafista e agente da Estação em Suçuarana, distrito de Senador Pompeu,  por algum tempo.

Já Francisca Gurgel Brasil nasceu em Parangaba, distrito de Fortaleza,  em um casarão na Praça da Igreja Matriz ,em 25 de Janeiro de 1904.

Conta Luiz Gurgel Brasil, primogênito: “Algumas vezes passando por lá, quando íamos sempre passear no sítio de José Gurgel, filho de Teófilo Gurgel,  lá em Maraponga, onde hoje é o DETRAN, ela nos mostrava apontando a casa onde  nasceu.  Um irmão de Vovô Henrique Gurgel do Amaral Valente, Teófilo,  era sócio na época da Siqueira Gurgel.  Esse sócio dele chamado Siqueira, deu o nome ao Bairro Siqueira .

“Nessa época papai já havia sido chefe das estações em  Iguatu, Patos/PB, Alencar, Cajazeiras, Lavras da Mangabeira e Capistrano de Abreu. Ficou viúvo de sua primeira mulher,  Maia Luiza de Oliveira Brasil,  com quatro filhos. . O mais velho tinha cinco anos Ele deixou toda criançada em Iguatu com a avó deles. Em 1935 foi chefiar a estação de Acopiara por escolha e determinação do Presidente da República  e do Ministro da Aviação e Obras Públicas.

“Foi lá que conheceu Francisca Gurgel Valente. Ela como todos os sertanejos foi como de costume olhar a passagem do trem na Estação. Chegando lá ao escutar o ruído dos aparelhos de Morse ela olhou pela janela da estação e avistou o novo Chefe manipulando Morse em uma cadência exagerada. Ficou encantada com o chefe muito bem fardado, com um impecável quepe na cabeça. Então surgiu uma conversa que apressadamente virou um casamento muito feliz. Ao se casarem, ela prontamente mandou busca toda criançada e assumiu todos como filhos de Valdizar como não podiam deixar de fazer. Sendo de origem muito católica tomou logo certas providências como a 1ª comunhão e outros procedimentos relativos aos meninos. Ela durante toda vida foi do lar, dedicadíssima ao marido e filhos. Para ajudar economicamente na educação da família, ela costurava e bordava toalhas de mesa e colchas de cama.. Faleceu em 29 de Agosto de 2000”.

Em 1936,  ela estava grávida esperando o primeiro filho, quando Valdizar foi nomeado agente da estação de Senador Pompeu. Foi em casa que assistida por uma famosa parteira de nasceu Luiz Gurgel Brasil,, o primeiro filho de uma série de sete.

Os demais filhos nasceram: Valda em Cajazeiras. Antônio, José Alfredo e Francisco em Iguatu, João Henrique, Humberto, Edmundo, Edmar, Maria de Fátima, Maria das Graças e Ricardo em Fortaleza- CE. Ricardo é filho de Antônio. A mãe de Ricardo faleceu em parto cesariano e seu avó, Tica,  adotou no dia seguinte o neto como filho.

Valdizar foi promovido de “letra” e assumiu a chefia da estação de Otávio Bonfim, bairro de Fortaleza. Logo em seguida, foi  transferido para assumir o a chefia da  Estação Central Eng, João Felipe, em Fortaleza, aspiração de todos os chefes de estação da RVC. O chefe  tinha direito uma casa grande e moderna, com hortas e jardins,  para morar com a família construída em meio quarteirão na Avenida Tristão Gonçalves nº1, vizinho ao parque ferroviário. Tinha também direito á dois ordenanças para serviços gerais. Nessa casa, Valdizar e Tica  hospedaram os familiares: irmãos, sobrinhos e outros que precisavam tratar de assuntos particulares ou passear em Fortaleza.” Eu como menino na época me lembro de Dom Newton seminarista e como Padre recém-ordenado sendo um dos hospedes importante dos que por lá passaram”, recorda.

Recorda Luiz Gurgel Brasil: “Vale apena lembrar que nas férias escolares dos filhos, Vadizar requisitava um “carro vagão especial”  para os filhos passar o mês de férias em Acopiara com os avós e tios. Nesse carro especial tinham: uma sala de refeição, banheiros completos, oito camarotes com camas, varandas e muito conforto. O carro vagão especial passava o mês inteiro no desvio de trilhos ao lado da estação, até terminar as férias. Tempo bom que não volta nunca mais.

 “O único transporte que funcionava bem na época era o trem, tanto para passageiros como para cargas variadas. Tinha vagões para transportar animais para abate,  para combustíveis, para transporte de alimentos, frutas,  para transportar lenha para usina fornecedora de energia elétrica em Fortaleza,  para transporte de calcários e outros minerais. Tinha vagões de 2ª. Classe, de 1ª.  Classe,  restaurante e também vagão especial para autoridades e pessoas ricas e trem pagador.. As pessoas mais importantes da época viajavam de trem que era praticamente o mais nobre transporte. Por essa razão e outras, o chefe da estação fazia as melhores amizades e gozava de muito prestígio profissional e social.

Na Estação João Felipe, Valdizar permaneceu no cargo por mais de 15 anos, graças aos seus bons e honestos trabalhos.

Na substituição do diretor da RVC,  Humberto Monte, por Hugo Rocha, começou haver a influencia politica no serviço público. Valdizar foi afastado da função que ocupava, não gostou,  ingressou com um pedido de licença especial em uma das três que tinha direito, por já contar com mais de 30 anos de serviço.Após apenas aos dois meses, foi chamado pelo diretor Hugo Rocha que em reconhecimento a sua trajetória profissional e por necessidade de serviços o convidou para suspender a licença e ser aceitar chefiar a Contadoria Geral da RVC. Seis meses depois , foi convidado a aceitar chefia de Pagador Geral da RVC, passando a viajar mensalmente no chamado “trem pagador” tanto na linha Norte- Fortaleza-Sobral como na linha Sul, Fortaleza-Crato. Valdizar chegou  ao fim de sua carreira como Agente de Estação Classe Letra G. e aposentou-se com 40 anos de serviço. enquadrado no cargo de Pagador da R.V.C. 

Todas as promoções e nomeações dele foram assinadas por Washington  Luiz, Getúlio Vargas e pelos Ministros da Aviação e Obras Públicas.

 Atendendo ao convite do Engenheiro Dr. Calos Oliveira, da RVC,  e candidato á deputado federal, aceitou se candidatar á deputado estadual tendo sido eleito primeiro suplente mais votado, mas não assumiu.. Ao falecer , em 10 de Novembro de 1972, minutos antes ele falou que ia partir sentindo muita dor física e muitas saudades dos amigos, livros e família.

 

MOMENTO DE ALEGRIA DE VALDIZAR DE MELO BRASIL:

No final da década de 40, ele chegou em casa, após ao trabalho, e  vibrando de alegria falou para minha mãe que Getúlio Vargas havia  concedido um abono de natal no valor de m 0,5%. Nunca me esqueci da alegria. Não havia inflação. Ou  tempo bom!

MOMENTO DE GRANDE TRISTEZA:

No início da década de 50,um colega pediu para ele ser fiador de umas portas para completar a construção  de sua casa. O colega não pagou o compromisso na serraria. Ele com muita dificuldade cumpriu com o compromisso e até chorou  mais pagou mesmo, para manter seu nome limpo.

 

* JB Serra e Gurgel (Acopiara) jornalista e escritor, sobrinho de Francisca Gurgel Brasil, Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

Não sei se há necessidade. Receba como informação. O meu avô paterno chamava-se Antônio José de Melo. Papai  tinha dois irmãos: Valter de Melo Brasil “Chefe de Trem” e Antônio de Melo Brasil, “Agente de Estação”. Tio Antônio deixou a Rede Viação Cearense e ingressou como telegrafista do Departamento de Correios e Telégrafos em São Paulo, onde se tornou  Diretor Geral.

Papai aos dezoito anos de idade, quando viajava  em um Trole Motor  de Suçuarana para Iguatu, á serviço, sofreu um grande acidente. O Trole virou e uma corrente de aço seccionou todo o abdome  dele ficando inteira apenas a coluna. A cicatriz que ele carregou durante toda vida, impressionava a qualquer médico  por mais estoico que fosse. Viveu graças a milagre de N.S.DAS DÔRES. Diga-se passagem na época ainda não tinham os antibióticos. Usava-se solução de ácido fênico(fenol) e ele se deitava em folhas de bananeiras para evitar escaras.

Depois tem mais.

Abraços,

 

 

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